Orodispersível [s40, a25]
Uma reunião de pequenos momentos domésticos e pensamentos banais. De toma única, desfaz-se na língua para actuar mais rápido.
Kelly Reemtsen, Pill Pile (2011)
Já não escrevo há tanto tempo, que achei que era mais fácil voltar nesta rubrica. Fiz uma embolização pélvica em Abril, melhorei muito da dor crónica que tinha, às vezes, nem acredito que é real, mas a falta de vascularização no útero fez com que outro processo me caísse em cima como uma bigorna: a perimenopausa. De súbito, e depois de escrever um romance de mais de 200 páginas em dez meses, de me sentir ágil mentalmente e a pensar muito bem, deixei de me reconhecer. Foi como se o meu corpo e a minha mente tivessem sido raptados por aliens durante a noite. Depois de alguns meses perdida, um Verão muito confuso, com muita ansiedade e muito calor, recebi o diagnóstico da minha ginecologista e comecei a tentar hackear o meu corpo de volta. Graças à embolização, voltei ao yoga, ao ginásio e às caminhadas. Tento comer mais limpo e cuidar de mim. Parece mentira que tenha conseguido voltar a fazer uma vida normal e, estou tão grata, que quero tratar o meu corpo da melhor forma possível. Já vejo alguns efeitos, mas ainda são residuais e ainda falta muito para me sentir esperta e perspicaz como me sentia há um ano. A Letícia, que é minha professora de yoga, diz uma coisa muito engraçada quando está a tentar explicar a alguém o equilíbrio de uma invertida sobre a cabeça. Ela diz: estás a ver esse ponto em que parece que vais cair, mas não cais? É aí. Acho que é uma boa definição para a perimenopausa. Falo com outras mulheres da minha idade e estão quase todas na mesma situação. Uma vez que a perimenopausa pode durar até 12 anos, estou decidida a fazer tudo o que está ao meu alcance para reverter os sintomas. O cérebro fragmentado e a falta de memória é um dos que mais me aborrece e, por isso, retorno ao substack com pequenos textos.
Como tenho dificuldade em me lembrar de tudo, às vezes até mesmo em falar sem trocar as palavras, como estou sempre desconfortável com o calor e as tonturas, como se me saíssem raios pela cabeça e como me estou a adaptar a tudo o que é diferente no meu corpo, como se me tivessem puxado o tapete, toda a energia de que disponho neste momento está em manter-me confortável. Tirando as coisas que faço pela minha família, estou numa fase de mínimo esforço e isto implica zero fucks given. Se eu achava que já estava nesta fase ao chegar aos 40 anos, não podia imaginar o que seria agora e o que será ainda mais, calculo, quando chegar à menopausa. Sempre pensei que isto de não querer saber do que os outros fazem ou pensam, ou dizer o que se pensa como os malucos, ou simplesmente virar para dentro, sem culpas, era uma consequência de envelhecer. Agora percebo que também tem uma forte componente hormonal. É um pouco semelhante a estar grávida, com a diferença de que ninguém nos passa paninhos quentes. Mas também, quem está preocupada com paninhos quentes se estamos cheias de calor? O humor da perimenopausa é especial, tenho de admitir que há coisas de que estou a gostar nesta nova fase da minha vida. É desafiante, sim, até porque na maior parte do tempo não sabemos bem quem somos ou o que nos está a acontecer, mas também pode ser muito empoderador. Desconfio que, se souber jogar bem este jogo, pode mudar a minha vida para muito melhor.
Umas das coisas que comecei a fazer foi caminhar. Sempre que posso, deixo o carro em carro em casa e vou a pé fazer qualquer recado que tenha. Também tento caminhar à noite quando não sou eu a deitar a Camila. Tenho me apercebido de um movimento de pessoas, na minha cabeça chamo-lhes The Walkers, que estão a fazer o mesmo que eu. Reconhecemo-nos, porque somos iguais. Gosto de caminhar sem auriculares nos ouvidos. Para mim, parte da beleza da caminhada, é poder ouvir os sons, as conversas, a vida da cidade (ou do campo, quando se aplica), e deixar que os meus níveis de cortisol fiquem bem baixinhos com esta meditação dinâmica. Por causa da dor crónica, fui impedida de me mexer durante mais de três anos, e agora estou deliciada com todo este movimento e com tudo aquilo que o meu corpo é capaz de fazer. O padrinho da Camila, neste Verão, caminhou 2200 quilómetros em 91 dias. Não me faltam bons exemplos e inspirações para aventuras a pé e para um estilo de vida mais saudável. Espero que isto não seja entusiasmo de principante e que nem a chuva que virá me demova de caminhar. Quero poder dizer: we, the walkers, com propriedade.
Desculpem se isto parece conversa de Millennial em crise de meia idade, sei que já cheguei um pouco tarde, mas outra coisa que me tem entusiasmado muito é o retorno ao ginásio. A minha ginecologista prescreveu-me pelo menos dois treinos de força por semana, diz que é imprescindível para a minha saúde futura, mas estou a conseguir ir três vezes. E o meu ginásio tem boa música. Ouço um tipo de rock que ouvia quando era mais nova, mas que, hoje em dia, não tenho por hábito pôr a tocar. Um rock mais grunge ou punk, como The Smashing Pumpkins, Pixies ou Nirvana. Ouvir músicas que não ouvia há anos e ainda saber partes de cor, faz-me viajar para sítios da minha adolescência e início da idade adulta que sei que preciso de trabalhar melhor. No outro dia reli o meu diário destas idades e fiquei de coração apertado. Já não acho piada como achava ao ler os disparates que escrevia. Sinto compaixão por quem eu era e sei que não havia forma de ter feito diferente com as condições que me foram oferecidas. Hoje, percebo que procurava amor em muitos sítios para compensar de outras coisas que me faltavam e, embora ainda me deixe triste, fico feliz por o compreender e por poder ter essa perspectiva enquanto estou a criar uma menina neste mundo. Ouvir estas músicas tem-me ajudado a fazer algumas pazes com essa parte de mim.
Ainda sobre este tema, este Verão li vários livros que normalmente estão juntos em listas de livros com títulos como “Mulheres Loucas” e equivalentes. Falo de livros como Milk Fed, You Exist Too Much, Uma Questão de Conveniência, O Meu Marido, e o meu favorito deste ano: Post-Traumatic que se vêm juntar a outros como My Year of Rest and Relaxation. Parece-me muito óbvio aquilo que vou dizer. Estas mulheres não são loucas, estas mulheres estão traumatizadas, como rapidamente se percebe ao ler a história de vida delas. Curiosamente, não vejo listas de homens loucos, da mesma forma que sinto que há um sector de mercado de thrillers dedicado às “mães loucas”. Isto não é por acaso e devia-nos fazer a todos pensar como as mulheres são caracterizadas na literatura e no cinema e que influência é que isso tem na nossa própria percepção das normas da sociedade. Uma mulher em perimenopausa é cray-cray, wait for it.
Até breve.
R.




Olá.
A soja é um potente aliado da mulher na menopausa.
Sugiro que vejas este filme deste excelente site em que colaboro:
https://nutritionfacts.org/video/soy-foods-for-menopause-hot-flash-symptoms/
Os benefícios hormonais são tais que na China, as mulheres que consomem mais soja têm cerca de 48% menos risco de fraturas.
https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/fullarticle/486688
Espero que fiques mais confortável, e podes tirar qualquer dúvida comigo.